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Sobre

Partimos do princípio de que a violência de Estado brasileira está fundada na tradição colonial bloescravocrata e produz efeitos traumáticos específicos em diferentes camadas do campo social. Temos como missão identificar e avaliar os efeitos dessa violência através da escuta clínica do sofrimento psíquico de populações moradoras de territórios periféricos, de modo a construir e aprimorar metodologias clínicas de reparação à violência estrutural de Estado, que possam servir às políticas públicas de Saúde (SUS), Assistência Social (SUAS), Educação e Cultura.

Compreendemos que esta violência, nomeada por nós como violência política, opera como um dispositivo que aglutina uma série de discursos e práticas de assujeitamento, silenciamento e objetificação dos corpos, retirando-lhes a potência de vida, o que se manifesta tanto pelo homício destes corpo, como por quadros de adoecimento que são costumeiramente psicopatologizados como paranoia, pânico, depressão, etc., e também em disfunções relacionais à vida prática que aumentam a condição de vulnerabilidade social (apatia e abandono das atividades cotidianas, desconfiança e rompimento com os laços, desemprego, abandono do lar, alcoolismo, chegando à casos limites de abandono da vida, por meio do suicídio).

O enfrentamento dessa complexa violência passa necessariamente pela afirmação da vida, pela restituição ao uso comum daquilo que foi capturado e separado de si; a sustentação do comum como princípio das singularidades. Temos como eixo central de trabalho o desenvolvimento de metodologias clínicas comunitárias que visam a recuperação de memórias coletivas, o fortalecimento de laços de cuidado e solidariedade, o aquilombamento, deslocando a noção de saúde mental de uma perspectiva individualizada e psicopatologizante, para uma perspectiva cultural, desde sua interface política, histórica, territorial e social.

Somente através da identificação, ressignificação e enfrentamento da violência é possível encontrar caminhos para a reparação de seus efeitos. Entendendo-se por escuta clínica, uma prática de cuidado eticamente orientada e atenta aos atravessamentos sociohistóricos, que permite o reconhecimento das singularidades no encontro com o comum, aposta-se que, também com ela, o sujeito periférico possa se reposicionar diante de sua condição de sofrimento psíquico, implicando-se naquilo que o faz padecer, de modo a construir protagonismo em sua história individual e na de sua comunidade.

Atuando desde 2012 com atendimentos individuais e coletivos, formações teóricas e práticas, supervisão clínica,acompanhamento de profissionais das redes SUS e SUAS e articulação territorial, trabalhamos para que seja possível a construção de ações que apontem para políticas públicas implicadas com a restituição subjetiva dos sujeitos afetados pela violência, transformando capacidades criativas, formas de engajamento, articulação e produção de cultura no território, assim como a recuperação do protagonismo, no sentido de estruturar a capacidade resiliente de construir um território justo, igualitário e sem violência.

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